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YENTL E O VIOLINISTA

SINOPSE DO ESPETÁCULO

 

            Na França do século XVI, um viúvo chamado Auguste de Barbarac, pai de uma menina de oito anos, cansado de viver sozinho – já que sua esposa falecera ao dar a luz –, se casa novamente com a Baronesa Rodmilla de Ghent, que por sua vez tinha duas filhas: Maguerite e Jacqueline.

            Pouco tempo depois do novo casamento, Auguste sofre um ataque fulminante do coração e morre. Como suas últimas palavras de amor e carinho foram para a filha, a baronesa se enche de inveja e rancor, e começa a tratar mal a menina.

            A viúva passa os anos gastando a riqueza do marido com seu próprio luxo excessivo e com as filhas. A fortuna decai e a baronesa percebe que sua única salvação é voltar a fazer parte da corte do rei Francis I, casando pelo menos uma de suas filhas com alguém da nobreza.

            Danielle, a menina que perdeu o pai amoroso e companheiro, agora vive como uma criada da casa. Agarrada ao último presente que recebera do pai – uma cópia do livro Utopia, de Thomas Moore –, ela vai enfrentar todo tipo de dificuldade. E, amparada por sua Utopia, vai nos ensinar que, quando existe um desejo muito grande, aliado à força de vontade, somos capazes de nos transformar e, assim, transformar o mundo.

                 Inspirado no filme “Ever After” (1998).

DANIELLE: PARA QUE SERVE A UTOPIA?

              O espetáculo contou a história de Cinderela?

              Se formos analisar pelas características gerais do enredo, pode-se dizer que sim.

               Ao estudarmos os contos “La Gata Cenerentola”, de Giambatista Basille; “Aschenputtel”, dos Irmãos Grimm; e “Cendrillon”, de Charles Perrault, pudemos observar inúmeras semelhanças.

              Todas essas versões contam a história de uma jovem cujo pai, viúvo, casa-se novamente com uma mulher que já tem outras filhas, as quais, juntamente com a mãe, passam a maltratar Cinderela depois da morte do pai. É ponto comum também entre essas versões um grande baile real, no qual Cinderela vai lindamente vestida e encanta a realeza. Danielle traz todos esses elementos de uma Cinderella, inclusive a alcunha de Borralheira.

              Na história de Danielle, porém, observamos um ponto bem diferente: ao contrário das versões clássicas do conto, nossa jovem borralheira  não depende de atitudes externas para ter seu final feliz. Os contos da Gata Borralheira trazem seres mágicos solucionando os problemas da jovem Cinderela (como pássaros, fadas ou plantas com poderes especiais).

              Danielle, por sua vez, conquista tudo com merecimento próprio, sem auxílio de magia, ou feitiços de qualquer natureza. Somente sua Utopia, a todo momento, mostra-lhe novas possibilidades.

              Em meio ao caos interior resultado dos acontecimentos de sua vida, Danielle olha para si mesma e descobre, dentro dela, uma força enorme. Força que vinha de tudo de bom que ela vivera até ali: a convivência carinhosa com o pai e, após sua morte, com os criados que se tornaram sua nova família.

              No que se refere ao lado intelectual, nossa Danielle também se mostra um pouco diferente. As versões de Cinderela descrevem sempre uma moça que se ocupa dos afazeres da casa e nada mais. Danielle é uma leitora assídua, tem consciência do mundo em que vive, de como expressar suas ideias, do que ela acha certo e errado, e dos ideais pelos quais pretende lutar.

              Dotada de um senso de coletividade muito grande, Danielle traz até nós um ideal de Justiça e Amor entre as pessoas. E, guiada por sua Utopia, ela vai caminhar sempre em direção a algo melhor.

FOTOS: ANDRESSA TARQUINI / CAROLINE GOMES / TARSILA BAZILIO

       Assim como em "Ever After" (1998), nossa Danielle também cresceu sob os cuidados de sua madrastra: a Baronesa Rodmilla de Ghent. Ambiciosa, a viúva passava os dias planejando uma forma de conseguir um casamento vantajoso para sua filha mais velha: Marguerite François Louise.

 

   Criada à imagem e semelhança de sua mãe, Marguerite desprezava Danielle e, junto com Rodmilla, passava os dias tentando manter a imagem da família que, há muito tempo, vinha tendo problemas financeiros por causa de seus excessos.

 

         Jaqueline, a segunda filha, em nada se parecia com a irmã. Dotada de um coração bondoso, ela mostrava afeição pela companhia de Danielle e, diferente da irmã e da mãe, considerava-a verdadeiramente como parte de sua família, não como uma criada da casa.

   Além defender Danielle em alguns momentos, Jaqueline mostra-se contrária às armações de sua mãe para alcançar poder e viver na corte francesa.

          

 

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           Além das responsabilidades do reino e as divergências dentro do próprio casamento, o Rei Francis I e a Rainha Claudia de Valois precisavam lidar com a rebeldia de seu único filho: o príncipe Henry.

         Contrariando todas as expectativas do pai e de todo o reino, Henry não quer ser rei e assumir as responsabilidades que essa posição exigia. Por causa disso, sua relação com o pai, impaciente e explosivo, é muito conturbada.

         A situação torna-se insustentável quando Francis, assinando um acordo com o rei da Espanha, decide que Henry se casará com a princesa Joana, filha do rei espanhol. Extremamente contrariado, Henry mostra-se cada vez menos disposto a obedecer o pai.

     A rainha, bem menos impulsiva que o marido, busca a todo momento mediar as desavenças entre os dois, mas sem muito sucesso.   

UM CONTO SEM FADAS

A BARONESA E SUAS FILHAS

A UTOPIA DE DANIELLE

A REALEZA FRANCESA

FOTOS: ANDRESSA TARQUINI / CAROLINE GOMES / TARSILA BAZILIO

FOTOS: ANDRESSA TARQUINI / CAROLINE GOMES / TARSILA BAZILIO

JAQUELINE E O MEDO DE VIVER

         Para transformar o filme "Ever After" (1998) em um espetáculo musical foi preciso recorrer à trilha sonora de outras histórias.

 

            Originalmente, a música "medo de viver" ("Life I've never led", no inglês) era cantada pela personagem Irmã Roberta no musical "Mudança de Hábito" (Sister Act, 2006). A jovem noviça elencava várias experiências de vida que ela havia deixado passar por ter medo do novo, do desconhecido. Ao final da música, surge uma nova Irmã Roberta: segura de si e disposta a enfrentar seus medos.

 

               Ao estudarmos a trajetória de Jaqueline no história, não foi difícil traçar um paralelo entre o dilema vivido por ela e pela Irmã Roberta. Durante toda a vida, Jaqueline foi submissa aos desmando da mãe e às maldades da irmã. Calada, ela acabava sendo conivente com as maldades e armações de Rodmilla e Marguerite.

 

            Quando as duas são desmascaradas pelo rei, Rodmilla pede que Jaqueline minta a seu favor. Nesse momento ela, pela primeira vez, toma as rédeas da própria vida e, contrariando a mãe diz o que sente e o que pensa.

                Num solo musical que emocionou a todos, Jaqueline enfrentou seu medo de viver e mostrou à plateia que o primeiro passo é acreditar em si mesmo.

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